terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Artigo: Existe Estágio e ....Projeto de Estágio?

EXISTE ESTÁGIO E ... PROJETO DE ESTÁGIO?


Eunice CARVALHO[1]
Reginaldo Motta de SOUZA[2]
Taís Regina de MELLO[3]


RESUMO

O presente artigo objetiva mostrar a importância do estágio na formação do professor de educação infantil. Tem como base o trabalho de estágio realizado por Osteto na Universidade Federal de Santa Catarina e a prática de estágio nos CMEIs que estamos realizando no Curso de Pedagogia da UENP – CCHE. O referencial teórico apresentado neste artigo, aliado às ações desenvolvidas no estágio, resultam na demonstração clara da importância de prática pedagógica de qualidade para a formação do acadêmico.

Palavras chaves: Estágio. Educação Infantil. Formação de docentes.

Introdução

O presente artigo faz um paralelo entre o texto “Andando por creches e pré-escolas públicas: construindo uma proposta de estágio”, de autoria de Luciana Esmeralda Ostetto, com a realidade do estágio realizado nas instituições de Educação Infantil nas cidades de Jacarezinho e Santo Antônio da Platina, no primeiro semestre de 2009. O objetivo é relatar como as atividades do estágio são desenvolvidas, perpassando pela formação dos profissionais que trabalham nestas instituições, como a instituição recebe os acadêmicos/estagiários e o resultado do estágio para o acadêmico e a instituição onde acontece sua realização.



O estágio nas Escolas Municipais de Educação Infantil

Segundo Ostetto (2006) antes de iniciar o estágio deve haver uma reflexão sobre as instituições de educação infantil, os direitos das crianças e a formação dos educadores. Realizado com esses parâmetros, o estágio realizado pelas alunas do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Santa Catarina foi marcado pela aproximação e diálogos com as instituições de Educação Infantil, objetivando a promoção do encontro entre estagiárias e educadores da educação infantil em exercício. O estágio realizado nas cidades de Jacarezinho e Santo Antônio da Platina acontece numa realidade diferente da experiência de Ostetto e suas alunas, pois como cada acadêmico realiza o estágio individualmente, não existem ações articuladas entre estagiárias e as instituições de Educação Infantil.

A formação e o perfil dos profissionais da Educação Infantil

Nas instituições de Educação Infantil encontramos professoras com formação de magistério, ensino superior e pós-graduação, como é exigida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 9394/96 e de acordo com o que coloca Ostetto (2006, pg.18), segundo a qual, “Se houvesse um mínimo comum, creio que seria este o aspecto: os profissionais que atuam em instituições do tipo pré-escola geralmente são professores, com formação em magistério”. Todas as professoras responsáveis pela sala tem essa formação mínima exigida, porém encontramos também salas que ficam aos cuidados de estagiárias remuneradas que ainda estão cursando o Curso de Formação de Docentes ou o curso de Pedagogia.
Constatamos que esses profissionais têm envolvimento pessoal com os alunos e se entregam ao trabalho que fazem. Assim devem ser estes profissionais: amorosos, pacientes, dedicados e, principalmente, devem gostar de crianças. Os laços construídos com a criança da Educação Infantil e a dedicação das educadoras é visivelmente diferente e mais intensa daquela profissionais atuantes nos níveis posteriores de Ensino. É importante também reservar um tempo para atualização profissional, através de leitura e cursos específicos para este nível. Quanto ao planejamento, foi verificado que esses profissionais enfrentam dificuldades. Eles passam um longo período ininterrupto em sala de aula – de 4 a 6 horas - e não conseguem planejar todas suas ações.
O ideal seria uma professora para cada turma da Educação Infantil. Se não tem professores, outros devem ser contratados para suprir a demanda, dessa forma as estagiárias remuneradas cumpririam apenas a função de auxílio à professora em sala de aula. Devido a peculiaridade de sua atuação, a formação deste profissional deveria ser específica para a faixa etária de zero a cinco anos, pois um professor preparado para atuar nas séries iniciais do Ensino Fundamental encontrará dificuldades para trabalhar com a Educação Infantil. Não negamos a importância de que o professor tenha conhecimento das etapas seguintes do desenvolvimento da criança, mas é fundamental um profundo conhecimento da fase com que ele está trabalhando. Essa qualificação deve estender-se também às dirigentes das instituições de Educação Infantil. Delas não deveria ser exigido apenas o magistério, mas sim, uma especialização em educação Infantil.
É evidente que a formação universitária é mais elaborada, principalmente no que se refere aos conhecimentos teóricos. No entanto, a formação no Ensino Médio exige um estágio bem elaborado, com acompanhamento da professora da disciplina, o que é de fundamental importância para seu bom desenvolvimento. Sendo ele essencial para a formação do docente, deve ser elaborado e acompanhado de perto pelo professor para chegar ao que sugere Osteto (2006, p. 21):
Para tanto, foi (e é) preciso andar pelos lugares em que se dão as práticas educativas, para reconhecer os espaços concretos das relações entre adultos e crianças de zero a seis. Foi (e continua sendo) fundamental ler e conhecer o contexto das instituições de educação infantil, para buscar diálogo, para construir aquela competência profissional almejada, para garantir, enfim, a qualidade defendida.

Portanto, a formação inicial desses profissionais compete tanto às escolas de Ensino Médio, quanto às universidades, cabendo ainda às prefeituras a oferta de cursos específicos de formação continuada. Essa formação pode ser concretizada através de políticas públicas que objetivem a qualificação dos profissionais e uma educação infantil de boa qualidade. Os profissionais e o público atendido na Educação Infantil devem ser reconhecidos como sujeitos de direitos, atuantes nas práticas pedagógicas e educativas, não apenas como “cuidadores” e “cuidados”, porém na prática isso não ocorre, portanto,
(...) o espaço no qual deve se efetivar uma ação qualificada, voltada para a criança-sujeito-de-direito, requer um profissional habilitado e com competência para articular educação-cuidado na sua prática cotidiana, no seu fazer educativo entre grupos de crianças de zero a seis anos. (OSTETTO, 2006, p. 17)

Para chegar a esse patamar de profissional, é necessário que o estágio seja bem instrumentalizado. Esses instrumentos devem consistir de fundamentação teórica sobre a Educação Infantil, como: livros, textos, artigos, documentários, relatórios, fichas de estágio, planos de aulas, entre outros. Esses são os instrumentos que darão embasamento científico à realização do estágio. Além disso, como argumenta Osteto (2006), um pré-estudo da instituição em que se desenvolverá o estágio é fundamental.


A instituição de Educação Infantil e os acadêmicos/estagiários

Nas instituições de Educação Infantil deve existir uma perfeita integração, articulação e trabalho em grupo entre professoras, estagiárias remuneradas, direção e também acadêmicos/estagiários. O exercício e a reflexão em grupo possibilitam a resolução de problemas que surjam no cotidiano dessas instituições, pois problema e solução são responsabilidade de todos os envolvidos. Neste conjunto, o acadêmico/estagiário pode e deve ser inserido, contribuindo para o desenvolvimento da instituição. Recebendo e integrando o acadêmico/estagiário, as instituições colaboram na formação dos futuros profissionais e como retorno, podem aproveitar os conhecimentos trazidos por eles sobre os novos paradigmas e concepções educacionais.
O sucesso do estágio depende da instituição em que ele é realizado, da universidade e do professor da disciplina, que devem orientar de forma clara e objetiva como se dará o desenvolvimento do estágio. Porém, o peso maior é do próprio acadêmico e de sua disposição em envolver-se no cotidiano das professoras e alunos e doar uma parte do seu tempo para a instituição estagiada. O estágio deve ser uma troca. O estagiário estará em contato com o mundo infantil e a instituição e professoras contam com as novas ideias que este trará consigo.

Conclusão

O estágio supervisionado deve se desenvolver através de um projeto, com os acadêmicos divididos em grupos, objetivos bem delineados e as datas de estágio nas instituições definidas previamente. Desta forma, o acadêmico prepara-se para o estágio e a instituição programa-se para recebê-lo. O estágio individual não tem o mesmo crescimento que o estágio em forma de projeto de um grupo. Como se encontra hoje, muitas vezes os acadêmicos dirigem-se às instituições sem um prévio aviso, o que dificulta sua integração com a instituições e compromete o trabalho desenvolvido. Mas mesmo que avise previamente, muitas instituições não se preparam para recebe-los e professores e Direção não sabe o que fazer com eles.
Ao elaborar um projeto de estágio realizado em grupo, discutindo com professoras e dirigentes da instituição de Educação Infantil, refletindo sobre suas realidades e carências, o acadêmico terá um maior comprometimento com o estágio, ao invés de apenas cumprir a carga horária necessária à graduação. Com um projeto bem elaborado específico para cada instituição e um real comprometimento do estagiário, os benefícios serão visíveis e duradouros. Desta forma, o acadêmico estará agindo para sua transformação e também da sociedade, em um processo de aprendizagem e construção, num trabalho coletivo cujo objetivo é o desenvolvimento da criança, reconhecendo-a como sujeito de direito, merecedora de atenção e comprometimento, não simplesmente sendo utilizada como cobaias na produção de profissionais.

Referências

OSTETO, Luciana E. Encantos e encantamentos da educação infantil: partilhando experiências de estágios. Campinas, SP: Papiris, 2000.

[1] Universidade Estadual do Norte do Paraná
Graduanda em Pedagogia no CCHE
adaninhas@yahoo.com.br

[2] Universidade Estadual do Norte do Paraná
Graduando em Pedagogia no CCHE
reginaldomotta@seed.pr.gov.br

[3] Universidade Estadual do Norte do Paraná
Graduanda em Pedagogia no CCHE
taismello@seed.pr.gov.br

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